
Demissão dolorosa.

Após a alegria inquestionável gerada pela derrota do Barcelona em San Siro (nenhum madridista negará que a sombra do Triplete nos deixava bastante inquietos) e com um 0x2 aos 15 minutos, graças a um doblete de Mbappé, todos esfregávamos as mãos sonhando com uma vitória histórica que colocasse o time de Flick no divã da angústia e a LaLiga ao nosso alcance. Mas este Real Madrid vem tropeçando na recomposição defensiva durante toda a temporada (os jogadores da frente parecem viver em um mundo à parte), e no dia decisivo jogamos o título com uma defesa formada por um ponta adaptado a lateral (Lucas), um meio-campista improvisado como zagueiro (Tchouaméni), um garoto do Castilla que, graças a Deus, se saiu muito bem (Asencio) e meu conterrâneo Fran García, que começou como reserva de Mendy. O clube optou por guardar o dinheiro no banco na janela de inverno, e isso, no fim das contas, cobra seu preço. Como destacou Tomás Roncero, em matéria de opinião publicada no jornal AS, em meia hora aterrorizante, com desajustes vergonhosos na pressão, levamos quatro gols, e o Barcelona passou por cima, enlouquecendo os 50.000 culés que lotaram Montjuïc. Ceballos e Güler estavam perdidos no meio-campo, e Vinicius parecia com as luzes apagadas. Não se pode administrar tão mal uma vantagem de 0x2. Foi aí que quase todos os sonhos de fazer história conquistando esta LaLiga se desvaneceram.
● Sem espírito.
Acordei no domingo com um otimismo evidente, que cresceu ao ler uma citação atribuída a Cervantes: "Hoje é o dia mais belo de nossa vida, querido Sancho. Os maiores obstáculos, nossas próprias indecisões; nosso inimigo mais forte, o medo do poderoso e de nós mesmos. A coisa mais fácil, errar. A mais destrutiva, a mentira e o egoísmo. A pior derrota, o desânimo. Os defeitos mais perigosos, a soberba e o rancor. As sensações mais gratas, a boa consciência, o esforço para ser melhor sem buscar a perfeição e, acima de tudo, a disposição para fazer o bem e combater a injustiça onde quer que esteja". Com esse espírito filosófico, acreditei que meu Real Madrid conquistaria a montanha mágica de Montjuïc com humildade, coragem, compromisso e orgulho. O Real Madrid vinha de uma semana livre de jogos, totalmente descansado, enquanto o Barcelona chegava exausto da prorrogação em San Siro e com a ferida aberta por estar fora da Liga dos Campeões e do Triplete. Pois tudo saiu ao contrário. Terrível.
● Mbappé, o último recurso.
A LaLiga escapou, não nos iludamos. Mas é preciso construir o novo projeto esportivo em torno do parisiense. Ele marcou um hat-trick que deixou Flick à beira de um ataque de nervos e foi uma dor de cabeça constante para Iñigo e Cubarsí. Já lidera o Pichichi com 27 gols, somando 39 no total. Vai terminar a temporada perto dos 50. Números de super craque. Vini, agora é com você: precisa se picar e reagir. Apesar de suas duas assistências, seu jogo hoje foi sofrível. Por outro lado, parabéns à Modric. Ele entrou e mudou a partida. Luka ainda é o melhor.
● A base.
Justamente, o garoto Víctor Muñoz foi quem entrou nos minutos finais no lugar de Vini. Teve um mano a mano logo ao entrar em campo, mas a bola foi para fora. Isso me lembra o que aconteceu com Palanca e Drenthe em um Clássico no Camp Nou. Mas o menino não deve se pressionar. Mostrou desenvoltura e ousadia. Os gols virão. Mais base. O fato é que tivemos três chances para o 4 x 4. Apesar de tudo.
● Honrar Ancelotti.
Essa triste derrota me dói especialmente por Ancelotti, que, após se tornar o maior treinador da história do clube, merecia ter tido um final de LaLiga lutando pelo título até a última rodada. Mas vamos manter a memória viva. Carletto nos deu três Ligas dos Campeões gloriosas e 15 títulos, além de dignificar a imagem do clube e nunca reclamar. Ele deixa uma marca. E um legado.
Esta matéria é uma opinião do jornalista Tomás Roncero, publicada originalmente no jornal espanhol Diario AS. O conteúdo foi traduzido na íntegra para o público brasileiro e pode ser conferido em sua versão original através do link: https://as.com/opinion/dimision-dolorosa-n/.