
Malena Ortiz anuncia aposentadoria aos 27 anos após lesões no futebol feminino.

Malena Ortiz, meia nascida em Madri em 1997, anunciou sua aposentadoria do futebol profissional aos 27 anos, após uma carreira marcada por passagens por Rayo Vallecano, Canillas, Tacon, Real Madrid, Servette (Suíça) e Valencia. Em entrevista ao AS, ela reflete sobre a decisão, impulsionada por sua terceira ruptura de ligamento cruzado em dezembro de 2024 e pela vontade de iniciar uma nova fase como nutricionista. Apesar das lesões que limitaram seu potencial, Malena se diz privilegiada por ter vivido do futebol, um feito raro em outros esportes femininos, e está animada com sua nova carreira na agência Wakai, onde trabalha com jovens atletas.
● Uma trajetória de paixão e desafios.
Malena desenvolveu seu amor pelo futebol ao lado da irmã Samara, ingressando na base do Rayo Vallecano aos sete anos. Sua carreira incluiu Canillas (2013/16), Tacon (2016/20), Real Madrid (2020/22), Servette (2022/24) e Valencia (2024/25), onde encerrou sua jornada. Formada em Ciência e Tecnologia dos Alimentos, com mestrados em Nutrição Clínica e Deportiva e outro em andamento pelo Comitê Olímpico Internacional, ela sempre se preparou para o "dia depois" do futebol. A terceira lesão grave no joelho, sofrida em dezembro de 2024, reforçou sua decisão de se aposentar, tomada antes mesmo do incidente.
● Como você está após deixar o futebol?
Estou muito feliz, de verdade. Uma etapa linda da minha vida terminou, dediquei muitos anos ao futebol, e agora é hora de dizer adeus. Passei anos me preparando para o que vem depois, estudei Ciência e Tecnologia dos Alimentos, fiz um mestrado em Nutrição Clínica e Esportiva e estou finalizando outro em Nutrição Esportiva pelo Comitê Olímpico Internacional. Estou empolgada para encarar o mercado de trabalho.
● Como foi tomar a decisão de pendurar as chuteiras?
Sempre pensei em me aposentar jovem. Em dezembro do ano passado, rompi o ligamento cruzado pela terceira vez. Antes mesmo dessa lesão, já tinha decidido que esta seria minha última temporada como jogadora profissional. Sei que tenho só 27 anos, pode parecer cedo para parar, mas penso de outro jeito: aos 27, você já está um pouco atrasado para começar no mercado de trabalho. Era o momento de crescer em outra área. E, com a decisão tomada, veio mais uma lesão grave. Se eu tinha alguma dúvida, ela sumiu.
● Talvez você pudesse ter repensado devido à lesão, mas, se não tivesse acontecido, teria parado mesmo assim?
Sim, eu teria parado mesmo sem a lesão. Sempre digo que sou muito sortuda porque vivi do futebol por muitos anos. Isso era impensável para uma mulher recentemente. O problema, no meu caso, é que meu salário dava para viver o dia a dia, mas sem guardar nada. Se eu estendesse a carreira até, por exemplo, 35 anos, entraria no mercado de trabalho tarde demais. Prefiro começar agora. Quero reforçar que me sinto muito privilegiada, porque em outros esportes femininos as atletas nem conseguem viver só do esporte, precisam conciliar com outro trabalho. Eu tive a sorte de viver só do futebol, mas não queria me ver aos 35 anos sem poupança e sem experiência no mercado de trabalho. Foi por isso que decidi parar, mesmo antes da lesão.
● Das lesões anteriores, o que foi o mais difícil dessa lesão grave?
A primeira foi a mais dura. Eu estava em um momento ótimo, no clube onde sempre sonhei jogar, o Real Madrid… Tudo é novo, você começa a pensar se vai conseguir voltar a jogar. É horrível. As primeiras semanas são difíceis, com muita dor e sem conseguir fazer nada sozinha. Mas o pior de tudo é o medo de não voltar a fazer o que mais ama.
● O que falta para reduzir a incidência de rupturas de ligamento cruzado em mulheres?
É difícil responder, é um conjunto de fatores. Sempre dá para melhorar os recursos, porque jogar em grama natural reduz o risco. Também é importante profissionalizar os treinos, a prevenção… Tudo isso ajuda. Mesmo assim, acho que, devido à morfologia feminina, sempre vai haver um risco maior para esse tipo de lesão. Isso é uma realidade, mas qualquer medida para diminuir esse risco já é um avanço.
● Como nutricionista, há algo na alimentação que possa ajudar a prevenir essas lesões?
Não tanto para lesões de joelho, mas para prevenir lesões em geral. Estamos avançando muito, sabemos mais sobre alimentação, a importância do descanso… e temos mais recursos para otimizar a preparação física.
● Você vai continuar ligada ao futebol?
Comecei a trabalhar como nutricionista na Wakai, uma agência de representação, e estou muito feliz. Eles têm um grupo de jogadores jovens, alguns já profissionais, e montam uma equipe de trabalho da qual me sinto parte. Nutrição, psicologia esportiva, preparação física… Cada detalhe é cuidado. Fazer parte desse processo é incrível, porque você vê os atletas crescendo e depois vêm momentos de muita satisfação, como no último fim de semana, quando um deles estreou na Primeira Divisão. Parece que é seu também. É como reviver os momentos que vivi, mas por meio de outras pessoas. Estou encantada e grata pela oportunidade.
● Você não é a única jogadora jovem da Liga F que se aposentou recentemente, como Mariana Cerro (25 anos), Yoli Aguirre (26) e Bea Beltrán (27). Acha que pode haver algo em comum?
Posso falar da minha situação, não sei por que elas pararam. No meu caso, senti que já tinha alcançado todos os meus objetivos no futebol e era hora de começar minha vida profissional. Quero deixar claro que não é uma reclamação, nem quero parecer vítima, porque outros esportes femininos estão em situação muito pior que o futebol. Me sinto privilegiada. Foram muitos anos fazendo o mesmo, e agora quero me desafiar em outras áreas que também me apaixonam. Acho importante ter um plano B e passar a mensagem de que, se aos 27 anos você sente que outras coisas te motivam mais que o futebol profissional, por que não arriscar?
● Qual foi o momento mais marcante que você viveu em um campo de futebol?
O acesso com o Tacon, sem dúvida. Ainda mais porque dividi isso com minha irmã Samara. No geral, me sinto muito sortuda. Não quero transformar a aposentadoria em algo triste, porque estou muito feliz. Uma nova etapa começa, e quero aproveitá-la.
● E, por último, ficou alguma mágoa?
A única mágoa é não saber até onde eu poderia ter chegado sem as lesões. Eu estava no meu melhor momento. A mãe de Mateo Albarracín, um dos garotos com quem trabalhamos na agência, sempre diz que "tudo o que acontece é para o bem". Fico com essa frase. Quero acreditar que as lesões vieram porque a vida tem algo muito melhor guardado para mim.