
Ancelotti se despede do Real Madrid: Fim de uma era.

É oficial: Carlo Ancelotti deixa o Real Madrid. Após seis temporadas e 15 títulos — mais que qualquer outro em 123 anos de história —, o técnico mais vitorioso do clube dá adeus. Ele queria seguir, mas o Real Madrid decidiu abrir uma nova era, e Carletto aceita. Agora, será o treinador da Seleção Brasileira. Uma lenda sai de cena.
● Uma lenda inigualável.
Se vai o maestro, o pai, o chefe. O treinador mais vitorioso dos 123 anos do Real Madrid. O homem da sobrancelha marcante, da caixinha de chicletes. Carlo, o cavalheiro das respostas elegantes. Carletto, que pediu para dançar com Camavinga em Cibeles. O chefe dos óculos escuros e do charuto. Um italiano apaixonado por Madrid, pelo Real Madrid, pelo seu Real Madrid. Foram seis temporadas (duas na primeira passagem, quatro na segunda). Mas agora é oficial: Ancelotti não será mais o treinador do Real Madrid. Hoje é o dia, o grande dia. Chegou. Adeus. Se vai, acima de tudo, uma lenda.
Palmarés: 15 títulos | Anos |
---|---|
Três Champions | 2014, 2022, 2024 |
Duas La Liga | 2022, 2024 |
Duas Copas do Rei | 2014, 2023 |
Dois Mundiais de Clubes | 2014, 2022 |
Uma Intercontinental | 2024 |
Três Supercopas da Europa | 2014, 2022, 2024 |
Duas Supercopas da Espanha | 2022, 2024 |
● Exigência merengue.
Era um segredo escancarado (o Brasil anunciou em 12 de maio), mas agora é realidade definitiva. A saída de Ancelotti é a maior prova do que é o Real Madrid: um clube onde a exigência é implacável. É o oxigênio que faz viver e morrer ao mesmo tempo. Uma filosofia que transcende o humano. É a fórmula que levou o clube ao topo, mas também o faz derrubar tudo quando necessário, sem hesitar. Nem mesmo lendas resistem. Hoje, mais uma cai. Nem Ancelotti, com seus 15 títulos, sobreviveu há um ano ruim. Apenas um. Ninguém escapa. Um aviso claro para quem vem depois.
● Carta de Ancelotti.
Hoje separamos novamente nossos caminhos. Hoje, mais uma vez, levo no coração cada momento vivido nesta maravilhosa segunda etapa como treinador do Real Madrid. Foram anos inesquecíveis, uma jornada incrível cheia de emoções, títulos e, acima de tudo, do orgulho de representar este escudo.
Agradeço ao presidente Florentino Pérez, ao clube, aos meus jogadores, à minha equipe técnica e, acima de tudo, a essa torcida única que sempre me fez sentir como um deles. O que conquistamos juntos ficará para sempre na memória do madridismo, não só pelas vitórias, mas pela maneira como as alcançamos. As noites mágicas do Bernabéu já são história do futebol.
Agora começa uma nova aventura, mas meu vínculo com o Real Madrid é eterno.
Até breve, madridistas.
Hala Madrid y Nada Más.
● Comunicado do Real Madrid.
O Real Madrid e Carlo Ancelotti chegaram a um acordo para finalizar sua etapa como treinador do Real Madrid. Nosso clube deseja expressar seu agradecimento e carinho a quem é uma das grandes lendas do Real Madrid e do futebol mundial.
Carlo Ancelotti dirigiu nosso time em uma das fases mais bem-sucedidas dos nossos 123 anos de história e se tornou o treinador com mais títulos da nossa trajetória: três Copas da Europa, três Mundiais de Clubes, três Supercopas da Europa, duas Ligas, duas Copas do Rei e duas Supercopas da Espanha. No total, 15 títulos durante as seis temporadas em que esteve no nosso clube.
Para o presidente do Real Madrid, Florentino Pérez, "Carlo Ancelotti faz parte, para sempre, da grande família madridista. Sentimos orgulho de termos podido desfrutar de um treinador que nos ajudou a conquistar tantos sucessos e que, além disso, representou os valores do nosso clube de maneira exemplar".
Amanhã, o Santiago Bernabéu prestará uma homenagem no que será o último jogo de Carlo Ancelotti como treinador do Real Madrid.
O Real Madrid deseja muita sorte a ele e a toda sua família nesta nova etapa de sua vida.
Comunicado Oficial: Ancelotti#RealMadrid | #GraciasCarlo
— Real Madrid C.F. (@realmadrid) May 23, 2025
● Londres: O golpe.
Vocês viram, vocês sabem. Assim é o Real Madrid, com suas leis implacáveis. Tudo desmoronou em Londres, naquela noite fatídica contra o Arsenal (3x0). Foram meses de dúvidas sobre o jogo do time. Mais sobrevivência que brilho. O projeto foi se desgastando aos poucos... e aquela derrota acendeu a fogueira. O fim de um ciclo começava a se desenhar. Era cada vez mais clara a necessidade de mudança; Carlo, neste ano, não encontrou a solução. É a realidade. Ainda havia uma última chance: vencer a Liga e a Copa. Mas a vida de Ancelotti dependia disso. Era tudo ou nada. E não aconteceu.
● Sevilha: O xeque-mate.
Em 26 de abril, em La Cartuja, o ponto final foi escrito (3x2). O Real Madrid decidiu que esse projeto, glorioso por anos, estava em declínio. E tomou uma decisão. Foram meses de conversas. Tanto com Ancelotti quanto com Xabi Alonso (e contatos com Klopp). Mas o sucessor será Xabi. Ainda não há anúncio oficial, mas já temos a escolha confirmada. Será anunciado no domingo, ele assumirá o time a partir de 1º de junho e estará no Mundial de Clubes da FIFA. O clube prometeu apoiá-lo com três reforços (Alexander-Arnold, Huijsen — já anunciado — e Carreras). Em poucos dias, começará a 'era Xabi Alonso'. Está decidido, fechado. Ancelotti deixa de ser treinador. Ele se vai. E sai magoado, mas grato.
● Gratidão eterna.
"Nunca briguei com o clube... nem vou brigar no último dia. Quando for embora, só direi obrigado ao Real Madrid; e será uma despedida fantástica, porque tenho muito carinho por este clube... e ele por mim. Será um adeus muito bonito", Ancelotti deixou claro. Um homem de palavra. Fiel ao seu "nunca haverá problemas". Não haverá. Embora haja dor: ele tinha mais um ano de contrato e queria continuar. Claro que queria. Mas não será assim.
● A Chamada de 2021.
Se vai o estrategista, o gestor de egos. Rótulos que nunca o pesaram. Se vai aquele que protagonizou uma das ligações mais marcantes da história do futebol. Foi no final de maio de 2021: Zidane deixou o clube, esgotado pelas críticas internas. O Real Madrid começou a buscar treinadores. O escolhido era Allegri... mas a Juventus fez uma oferta de última hora e deixou o Madrid na mão. Mayday. E então, aconteceu aquela ligação.
Ancelotti era treinador do Everton e ligou para José Ángel Sánchez, diretor-geral — e braço direito de Florentino — para falar de jogadores. Possíveis contratações. A resposta: 'Enquanto não contratarmos um treinador, não podemos mexer no elenco'. Foi aí que Carletto se jogou. "Eu disse que o Madrid precisava de um dos melhores, ele perguntou quem... e eu respondi se ele tinha esquecido de 2014", confessou depois.
"Quer voltar? Pode voltar? Me dá cinco minutos", disse José Ángel Sánchez. O telefone tocou. Não foram cinco minutos. Mal passaram 220 segundos quando o celular de Ancelotti tocou novamente. Ele atendeu. Do outro lado... estava Florentino Pérez. Naquele exato momento, os detalhes do retorno foram fechados. E Carletto voltou ao Bernabéu. Às vezes, é preciso ousar na vida. Apostar tudo. Porque a ousadia, em alguns momentos, vale ouro. Vale 11 títulos.
● Lua de mel eterna.
Assim, Ancelotti voltou ao Real Madrid. E começou sua "lua de mel", uma de Schrödinger. Porque ela termina hoje, mas, ao mesmo tempo, nunca terminará. "Continua e continuará para sempre. O Madrid, como o Milan, fica no coração. Como em toda relação, no começo há muita paixão, depois outras coisas... mas essa lua de mel seguirá até o último dia da minha vida", disse na véspera do Clássico, com os olhos marejados. Ele já sabia o que estava por vir. Está vivendo seus últimos dias no banco da sua vida. Rei dos títulos.
Ele está fazendo isso, está acontecendo. Se vai o treinador mais vitorioso em 123 anos de história. Algo imenso. Com seu último título — a Intercontinental —, chegou a 15, superando Miguel Muñoz: três Champions, duas Ligas, duas Copas do Rei, dois Mundiais de Clubes, uma Intercontinental, três Supercopas da Europa e duas da Espanha. Acima da marca de Miguel Muñoz, com 14: duas Copas da Europa, nove Ligas, duas Copas e uma Intercontinental.
● E da Champions.
Ancelotti é uma figura lendária. O treinador com mais jogos na história da Champions: 224 (em Anfield, superou os 214 de Sir Alex Ferguson). Desde 13 de agosto de 1997, quando comandou seu primeiro jogo pelo Parma na Champions (vitória por 1x3 contra o Widzew Lodz, com hat-trick de Enrico Chiesa, pai de Federico Chiesa), passaram-se 27 anos, nove meses e dez dias. Nesse tempo, também se tornou o técnico com mais vitórias na Champions (127, superando as 115 de Ferguson).
Treinador | Partidas em Champions |
---|---|
Ancelotti | 224 |
Ferguson | 214 |
Wenger | 208 |
Guardiola | 195 |
Mourinho | 155 |
Lucescu | 152 |
● E agora?
Brasil. O Mundial de 2026. As negociações foram intensas, porque Carletto queria esgotar suas chances de ficar no Real Madrid. Isso estava acima de tudo. Havia conversas, até reuniões, como uma em Londres; mas nada de assinatura. A CBF começou a se impacientar. Eles queriam para o período de junho (dias 6 e 11). Isso levou ao anúncio: para Ancelotti fazer a convocação dessa data, ele precisava começar a trabalhar quase imediatamente. Mas havia outro motivo: Ednaldo Rodriguez quis anunciar a contratação antes do julgamento que acabou com sua destituição. Ele foi condenado por fraude. Com o tempo, tudo ficou mais claro. Mas temos a contratação. Ele assinou até o Mundial de 2026. Será o treinador da Seleção Brasileira.
E será o terceiro estrangeiro a comandar a Seleção (Joreca em 1944 e Filpo Núñez em 1965; mas nenhum durou mais de dois jogos). Assim, será o primeiro na era moderna. Em 26 de maio, oferecerá sua primeira convocação. Porque já assinou. Num contrato histórico: ganhará cerca de dez milhões por ano (com bônus, se vencer o Mundial), a CBF pagará sua casa no Rio de Janeiro e fornecerá um jato particular para viajar à Europa quantas vezes precisar. Em 26 de maio, um dia após seu último jogo com o Real Madrid, começará sua nova vida. Estreará, aos quase 66 anos, à frente de uma seleção. E será o Brasil.
● História das histórias.
Se vai Carlo, Carletto. O treinador da Décima. Aquele que saiu, voltou e venceu mais duas: Decimoquarta e Decimoquinta. Segundas partes, às vezes, foram, sim, boas. O gênio que tirou um coelho da cartola ao transformar Bellingham em artilheiro, quando perdeu Benzema. O técnico das viradas: PSG, Manchester City, Chelsea, Bayern e tantas outras. O maestro do — abençoado — caos. Ainda tinha um ano de contrato, mas o clube acha que é hora de mudar. De começar um novo ciclo. Ancelotti aceita e agradece. Prometeu que nunca seria um problema. E não será.
Embora o timing sempre traga memórias de algo que poderia ter sido melhor gerenciado. O clube, na tarde em que a CBF anunciou sua contratação, não disse nada. Absolutamente nada. Deixou Ancelotti sozinho diante da imprensa, pouco depois, numa coletiva, pegando fogo. Ele teve que dar explicações. E, mesmo assim, sem cara feia. Sem reprovações. Puro Ancelotti. Elegante até o fim. Fiel até o fim.
Mas é uma saída dolorosa, porque ele queria continuar. Embora seja uma dispensa amigável, ainda é uma dispensa. Mas Carlo sempre esteve à mercê do clube; até o último dia. Até hoje, quando a decisão foi anunciada. É uma saída promovida pelo Real Madrid, mas acordada nos gabinetes. Agora, rumo ao Brasil. Ancelotti se vai após 352 jogos oficiais (249 vitórias, 50 empates e 53 derrotas). Após 15 títulos, mais que qualquer outro em 123 anos. Após viver um sonho. Se vai o maestro, o pai, o chefe. Hoje é o dia, o grande dia. Chegou. Se vai, acima de tudo, uma lenda. Após seis temporadas, ele se despede. A cabeça, como a sobrancelha: erguida. Tchau.
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— Real Madrid C.F. (@realmadrid) May 23, 2025